“Como é que fazer sofrer pode ser uma reparação?”
Esta reflexão está no livro de Nietzsche, a “Genealogia da Moral” e despertou-me uma enorme vontade de escrever sobre este tema tão polémico, entre adultos, com papéis educativos.
Há adultos que continuam a utilizar os castigos como método correção para os “maus” comportamentos das crianças, sem refletirem sobre os danos físicos e psicológicos que lhes podem causar.
“Se não vai lá com o castigo, uma bela punição vai corrigi-lo e ensiná-lo!” Esta frase se não foi dita por vocês, já a ouviram de certeza de um adulto próximo.
Como diz Nietzsche, “há na crueldade um gozo favorito da humanidade primitiva”, uma “maldade desinteressada”, que promove a vingança, a desconexão, a dependência do outro para saber o que é certo e/ou errado, a ignorância, a mentira e a baixa autoestima. Estas são algumas das consequências dos castigos e punições quando aplicados em crianças e durante o seu crescimento.
Esta recordação criada no âmago da pessoa que é inúmeras vezes castigado e/ou punido, não lhe permite construir uma identidade saudável, autónoma, responsável, empática. As marcas do castigo/ punição não apelam à contribuição para mundo mais justo, mais livre e isento dos tais julgamentos criados na “pré-história” da humanidade ou na infância do indivíduo. Aquele que está preso também não se solta, por exemplo, de algumas crenças religiosas limitadoras.
A recompensa, por sua vez, é também uma ferramenta utilizada por muitos adultos com papéis educativos, com a intenção de manter a criança e jovem motivado, no entanto, o seu efeito é muito semelhante ao do castigo.
No nosso local de trabalho, não queremos ser compensad@s, ou recompensad@s, queremos ser vist@s, reconhecid@s, valorizad@s pela nossa contribuição, e pelos resultados. No casamentos, nos relacionamentos , a mesma coisa, o que queremos é ser respeitad@s, vist@s, ouvid@s, reconhecid@s pelo nosso parceir@.
Sei que pode parecer apenas uma questão de semântica, mas não é!
Ora vejam, quando pensam em estratégias para as crianças serem recompensadas o que é visualizam?
Eu visualizo, tabelas de estrelinhas e/ou cores comportamentais, tabelas de mérito e de excelência, onde todos os nomes são expostos para que todos possam ver, comentar, rotular e avaliar, sem respeito pela individualidade e/ou integridade pessoal.
Este método pode promover a baixa autoestima, a insegurança e a instabilidade emocional das crianças que obtêm uma classificação mais baixa, e também promove por parte de quem tem excelentes resultados a procura incessante da perfeição de atingir resultados de topo, sem olhar a custos, com a intenção de querer agradar aos outros.
Acredito que sentimentos de insuficiência, de não merecimento, etc.., podem ser fruto destes métodos educacionais.
Também é comum alguns pais utilizarem a recompensa como um incentivo, para que os filhos alcancem os resultados, que os pais acham ser os melhores para eles, sem que demonstrem um interesse pelos talentos, desejos e paixões dos filhos.
Como facilitadora de Parentalidade Consciente, não consigo perceber a utilidade dos castigos, mas entendo que não é fácil mudar paradigmas que estão na nossa sociedade há séculos.
Qual é a intenção dos castigos para os adultos com papéis educativos?
Na minha opinião, manter o adulto seguro, com a sensação que controla a criança e por fim promover a obediência.
Mas será que é eficaz? No início, sim, porque o domínio da relação é do adulto e a intimidação, retirada de privilégios e recompensas, são formas mais primárias que funcionam temporariamente.
Com o passar do tempo, os castigos, punições e recompensas, endurece o “castigado” que concentra e aguça os sentimentos de falta, de raiva e resistência e torna-o num ser mais fraco e com menos recursos para lidar com os desafios do mundo, com menos capacidade de pensar de forma crítica, de fazer escolhas e tomar decisões sem ajuda de terceiros e de assumir responsabilidade pelo quer e faz. E isto é tudo o que os pais não querem, certo?
Como podemos educar sem recorrer a estas ferramentas que como diz Nietzsche ”doma o homem, não o melhora?”
- Promovendo os Valores da Parentalidade Consciente ( Podem ler mais sobre este tema no seguinte artigo do blog: https://mindstepscoaching.pt/o-paradigma-da-parentalidade-consciente/
- Promovendo a responsabilidade Pessoal da criança desde cedo, mostrando as consequências naturais dos comportamentos mais e menos adequados. Por exemplo, se uma criança pinta a parede da sala, vamos encaminhá-la para uma folha de papel e ensiná-la que se pinta no papel; ou por exemplo, se uma criança com 2 anos de idade mexe no ecrã da televisão, vamos segurar-lhe a mão e tirá-la com gentileza do lugar, dizendo-lhe o que deve fazer, ao invés do que não deve fazer. Uma criança desta idade não entende o significado abstrato do não, apenas responde ao não, porque o tom de voz do adulto, por norma, aumenta quando diz não.
- Promovendo o diálogo e o interesse pelas atividades da criança.
- Utilizando consequências conscientes para a criança começar a entender o que é assumir responsabilidade e desenvolver a mesma. A consequência consciente tem uma ligação lógica ao comportamento/situação, promove a verdade, o cuidado, o apoio, aumenta a conexão e a autoestima.
- Consoante a idade da criança há que encontrar um conjunto soluções mais adequadas para os comportamentos mais desadequados.
Exemplos de consequências conscientes:
O Manuel (4 anos) pintou a parede da sala:
Consequência consciente: O Manuel vai limpar a parede.
Castigo: O Manuel não vai poder pintar durante 1 semana.
A Patrícia(10 anos) tem dificuldade em vestir-se de manhã.
Consequência consciente: A Patrícia decidiu em conjunto com os pais deitar-se mais cedo e deixar a roupa pronta no dia anterior.
Castigo: A Patrícia não vê TV durante 2 semanas.
“Stop” (Somos todos obrigados a parar) os Castigos, punições e recompensas, utilizados como métodos de educação preferenciais, pois não ajudam na formação de Seres humanos saudáveis.
Mais amor, conhecimento, educação consciente, conexão e empatia como método educacional preferencial, possibilitam o desenvolvimento saudável da autoestima e de relações respeitosas, ecológicas e conscientes.
Aguardo com expetativa as vossas partilhas!
Uma resposta
Gostei imenso do artigo.
Fez-me pensar e rever posturas