O tema da Comunicação Não Violenta, consciente e respeitosa tem estado muito em voga nestes últimos anos. Hoje a proposta que vos trago é a de fazermos uma pequena reflexão sobre o tema.
Como comunicas contigo e com os outros?
Para existir um processo de comunicação têm de existir, pelo menos, duas pessoas, um emissor (o que emite e/ou codifica mensagem) e um descodificador (o que recebe e descodifica a mensagem), assim como uma mensagem (voz, gestos, linguagem não verbal) e um canal de comunicação que se pretende aberto. Para que a comunicação seja consciente e efetiva, entre o emissor e o receptor deverá existir uma intenção clara de ver e ouvir o outro (as suas emoções, necessidades e limites) com autenticidade, respeito e empatia.
Infelizmente, por motivos múltiplos e que exploraremos em outro artigo, têm prevalecido padrões de comunicação não consciente que afetam negativamente o desenvolvimento das diversas relações das quais fazemos parte. Insistimos em perpetuar modelos relacionais e sociais que, apesar de familiares, já não nos servem e não dão resposta às nossas necessidades. Como pais e educadores, comunicamos, muitas vezes, de forma autoritária e egocêntrica, não escutando as emoções, necessidades ou limites dos nossos filhos/educandos. Da mesma forma, não damos a conhecer as nossas emoções, necessidades e limites, dando lugar assim a espirais de comunicação estéreis e disfuncionais.
O que podemos fazer para mudar este paradigma?
Podemos começar por procurar informação sobre comunicação não violenta, em livros ou sites de referência, ou procurar a ajuda de um especialista.
Inspirada pelos textos do Marshall Rosenberg, pioneiro do trabalho sobre a Comunicação Não Violenta, tenho investido no desenvolvimento das minhas competências relacionais e de comunicação, comigo e com o outro, e sinto-me cada vez mais leve e segura no processo comunicacional.
Podemos aprender com o modelo de Marshall Rosenberg os quatro componentes da Comunicação Não Violenta:
Observação (observar sem julgamentos, sem culpar e/ou apontar)
Sentimentos (expressar as nossas emoções de forma autêntica e compreender o que o outro sente)
Necessidades (tomar consciência das nossas necessidades fisiológicas (dormir, comer, hidratar, etc.…) e emocionais (segurança, reconhecimento, pertença, conhecimento, etc.) e transmiti-las de forma assertiva)
Pedido (deve ser claro, assertivo e conter uma ação específica).
Quando utilizamos este modelo como emissor, devemos fazê-lo com honestidade, sem medo, sem culpa e sem vergonha, assumindo a nossa essência e em alinhamento com os nossos valores, mas sempre de forma respeitosa.
Quando somos os receptores, é importante utilizar a escuta ativa e dar o espaço que o outro precisa para expressar o que observou, sentiu e necessitou. Caso não estejamos de acordo, devemos devolver a mensagem com a utilização do modelo de Marshall Rosenberg.
Quando sentimos que podemos ter comunicado de forma menos consciente, é importante aplicar a mesma estrutura. Quando estamos a comunicar com o outro e a falar sobre o outro, devemos ter em atenção a empatia, ou seja, ninguém consegue saber o que o outro sente ou necessita, mas podemos tentar adivinhar e sugerir. Por ex.: Quando há pouco não dei resposta ao teu e-mail, sentiste-te ignorada/desrespeitada/irritada/frustrada porque necessitavas de aprovação/validação/segurança? Como posso agora ajudar-te?
A Comunicação consciente não nos é, por regra, intencionalmente ensinada e o processo é bem mais desafiador do que parece, porque a nossa educação não estimula a observação isenta de julgamentos ou opiniões (temos sempre algo a dizer sobre o outro e tendência a rotulá-lo) e não incentiva a expressão e verbalização de emoções e necessidades (no entanto temos imensa facilidade em aferir o que o outro sente e precisa), muito menos a formulação de pedidos claros e assertivos.
Ouço cada vez mais adultos e jovens a dizerem que não entendem o que o outro diz ou precisa, no entanto, continuam esses mesmos adultos a ter comportamentos desadequados, como observamos em relacionamentos amorosos em que estão à espera que o outro adivinhe o que sente e perpetuamos isso na relação profissional e com os nossos filhos.
É fundamental termos consciência que faz parte da nossa responsabilidade pessoal comunicar os nossos limites ao outro e, por isso, torna-se essencial aprender a comunicar de forma mais consciente.
Esta mudança de comportamento pode ajudar muito os nossos filhos/educandos a desenvolverem competências emocionais e sociais importantes, como comunicar limites, melhor gestão emocional, redução de stress, redução e melhor gestão de conflitos, aumento da autoestima e da autoconfiança, mais leveza e relacionamentos mais próximos e seguros com os pais, com os adultos e com os seus pares.
Como podemos melhorar as nossas competências emocionais e influenciar positivamente os nossos filhos, educandos e/ou alunos? Começando por praticar, individualmente e com os outros, com a ajuda da Comunicação Não Violenta, relações mais autênticas e conscientes.
Espero ter sido útil e aguardo com expetativa as vossas sugestões para que todos possamos contribuir para um mundo melhor!