Crianças com necessidades especiais evidenciaram dificuldades durante o confinamento: “A justiça social tem de ser para cada um e não igual para todos”
A importância da informação
Helena Brito é facilitadora de Parentalidade Consciente e, recentemente, realizou várias lives no Facebook, intituladas de “Crianças com necessidades especiais na Pandemia”, com o intuito de ajudar os pais, com informações importantes, proferidas por especialistas de diferentes áreas, nomeadamente ao nível da Terapia Ocupacional, Psicologia, Fonoaudiologia, Terapia da fala e Psicopedagogia.
De acordo com Helena, a ideia surgiu em conversa com uma amiga, mãe de uma criança com autismo e, a partir daí, a facilitadora de Parentalidade Consciente procurou ajudar as famílias, contribuindo com informações úteis, dando visibilidade às crianças com necessidades especiais, bem como às famílias e profissionais.
Ao longo de vários dias, Helena Brito refere ter aprendido muito com todas as informações que adquiriu e acredita ter ajudado várias famílias neste mesmo sentido. Entende que a dificuldade principal das crianças com necessidades especiais é “lidar com a alteração brusca de rotinas”.
“As crianças com necessidades educativas especiais constituem um grupo vulnerável”, explica e adianta que “necessitam de mais apoio e acompanhamento em termos de aprendizagem e as terapias regulares presenciais em muito beneficiaram a sua evolução positiva”.
Neste sentido, sublinha que, para estas crianças, “a relação de confiança que se estabelece com um adulto em abordagens de intervenção presenciais é incomparavelmente mais rica do que quando estabelecida à distância e de forma digital”.
A situação atual teve um maior impacto, de acordo com a facilitadora de Parentalidade Consciente, um “ao nível da gestão emocional por parte destas crianças, que se encontram desreguladas, com dificuldades de conexão e sem ferramentas para lidarem de forma mais positiva com a situação”.
Foi durante o mês de fevereiro do presente ano que Helena Brito realizou as lives no Facebook com especialistas de diferentes nacionalidades e com realidades diferentes de Portugal. Contudo, todos com uma intenção em comum: dar a melhor resposta às necessidades das crianças e das famílias.
Durante o processo, Helena Brito conta ter tomado conhecimento que “durante os períodos de confinamento, as terapeutas têm que delegar nos adultos da família, por norma à mãe, a responsabilidade de fazerem as práticas terapêuticas com os filhos adequadas à realidade em que nos encontramos”.
Se calçarmos por uns minutos os sapatos destas mães ou educadores, conseguimos perceber que o processo é bastante exigente e desgastante, física e psicologicamente. Muitas destas mães não têm suporte psicológico e muitas vezes o único acolhimento que recebiam para as suas próprias angústias era o do(a) terapeuta do filho(a), do qual também se encontram privadas.
“Sabemos pouco sobre as necessidades especiais”
Após a realização do projeto, Helena Brito conclui que, atualmente, “sabemos pouco sobre necessidades especiais e que pode ser muito desafiante para as famílias e para os técnicos lidar com a impotência que sentem nesta fase, por não conseguirem cuidar de quem mais precisa”, explica.
Por outro lado, a facilitadora em Parentalidade Consciente refere que “as pessoas que se envolvem nestes processos colocam o foco na solução e não no problema, o que é de louvar”. Apesar de tudo, Helena Brito também concluiu que “o preconceito ainda existe e que na área da inclusão ainda há muito trabalho a ser feito”, referindo ainda que, muitas das famílias “não vê o defeito, a diferença, a necessidade, vê o Ser que ocupa um espaço enorme no próprio coração”.
Fonte: Emissor.pt