A primeira vez que me deparei com o termo “pobreza relacional”, foi no livro “O que é que lhe aconteceu?” escrito pelo Dr. Bruce Perry e pela Oprah Winfrey.
Este conceito explica a forma como a sociedade moderna se tem organizado socialmente ao longo de décadas, ao nível das ligações emocionais e das mudanças culturais, com orientação para o Ter, para o materialismo e estatuto, afastando-nos assim da nossa essência, da vida em comunidade, do propósito de vida e da afiliação (conexão, relação, etc.), diminuindo o nosso sentimento de pertença.
O afastamento emocional e a solidão na nossa sociedade têm contribuído para o aumento do número de pessoas com distúrbio depressivo, problemas de sono e ansiedade e vulnerabilidade psicológica em geral.
Temos assistido a um aumento exponencial de jovens com problemas psicológicos graves, que são resultado do isolamento social provocado pela pandemia, mas também pela falta de conexão e de ligação com o outro e com a falta de experiências em grupo e em ambientes externos. A preferência pela vida “virtual” tem vindo aos poucos a tirar espaço à vida social real, o que pode inibir o desenvolvimento de competências sociais fundamentais.
Estamos a educar as nossas crianças e jovens em ambientes pobres em termos relacionais, sobrecarregados pelas novas tecnologias e baseados na utilização excessiva de ecrãs, ao invés de proporcionar ambientes seguros para o contacto humano, o toque, conversas e momentos de partilha em família e com as diferentes gerações. E com que intenção fazemos isto?
Com a intenção de alcançarmos todos os nossos objetivos extrínsecos (material) ao invés dos objetivos intrínsecos (relacional)?
A necessidade de segurança emocional é fundamental para a sustentabilidade de uma sociedade mais empática e humanista e esta segurança é garantida pela (co)regulação emocional desde o nascimento e durante toda a nossa vida e pelas ligações emocionais respeitosas e promotoras de um ambiente seguro.
A maioria dos Seres Humanos não atende as suas necessidades relacionais fundamentais, nem das crianças, o que pode provocar uma forte sensação de vazio, por falta de ligação.
Neste sentido, gostava de apelar ao vosso ativismo para a promoção da riqueza relacional, ou seja, para a promoção de mais contatos “cara a cara”, que tanto contribuem para a nossa segurança emocional e diminuem os nossos índices de stress.
Sei por experiência própria que mesmo quando estamos longe da família, somos capazes de criar laços emocionais muito fortes com pessoas com as quais nos identificamos e que passam também a ser a nossa família. Criámos a nossa família nos anos em que vivemos no Brasil e também a nossa família Angolana. No fundo, estas experiências reforçam a nossa necessidade de segurança, de ligação emocional, de suporte e de amizade.
Podemos começar já nesta semana de Páscoa a promover encontros de riqueza emocional com a intenção de nutrirmos os nossos corações e também os corações das nossas crianças!
Aguardo com expetativa as vossas partilhas!