Transformação, Superação E Passagem

A Páscoa!

Confesso que sempre dei muito valor às celebrações pascais, talvez por me terem sido ensinadas por uma das mulheres mais importantes da minha vida – a minha avó Celeste.
Hoje, senti necessidade de escrever sobre o desafio de não ter o meu pai presente nesta Páscoa, para organizar os meus pensamentos e acalmar o meu coração.
Comecei por trazer à memória o significado que interiorizei sobre a Páscoa e o que ela representa, para mim. Escrevi no meu caderno três palavras: transformação, superação e passagem. Estas três palavras lembram e resumem a história que construí com o meu pai.
Na sua essência, esta época representa a morte e ressurreição de Jesus. Nesta Páscoa, lido com a morte do meu pai e com a ressurreição de partes minhas que me completam e oferecem novos propósitos.
Esta celebração religiosa traz associadas as ideias de pecado e perdão. Durante muito tempo, tive dificuldade em aceitar que estas duas ideias caminham juntas – que um erro seja considerado pecado, que precise de punição, e que o perdão surja como uma espécie de bênção que tudo apaga, sem que haja reconhecimento e responsabilidade.
Hoje, compreendo que o perdão não deve ser visto como recompensa, nem o erro como motivo de castigo. Não acredito na sustentabilidade de processos que assentam nos pressupostos da punição e da recompensa. Acredito que os “pecados” fazem parte da natureza humana, sobretudo da humanidade de quem, como eu, se reconhece imperfeito. O perdão é, para mim, a possibilidade de reparação – do nosso coração e do coração dos outros.
Perdoar-me e perdoar o outro não depende de validação externa; depende de clareza e maturidade emocional e cognitiva. Eu e o meu pai tivemos os nossos erros, mas conseguimos reparar e perdoar, ainda em vida, o que me oferece hoje mais paz e equilíbrio.

Escrever sobre a Páscoa é escrever sobre reconciliação.
Quero muito reconciliar-me com algumas partes minhas, com as quais ainda estou afastada. Em simultâneo, estou a fazer conciliações com quem eu sou e não com quem quiseram que eu fosse – ou seja, estou no caminho da aceitação.

Depois de ter organizado os meus pensamentos através da escrita, sinto-me mais leve e apaziguada com a ideia de não ter presente nesta Páscoa um dos homens mais importantes da minha vida: o meu pai.
E deixo-lhe uma mensagem:

– Pai, desejo-te uma Páscoa serena. Estarás comigo no pensamento e no coração: na mesa onde me sentar, no brinde que farei à vida e no folar que saborearei com gratidão.

Deixo que esta Páscoa me encontre onde estou — sem mais, nem menos.

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2 Responses

  1. Que texto lindo , fala um pouco de todos nós… parabéns querida!! Páscoa e fé sempre pra vc!!

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