Cada vez mais pais relatam que os seus filhos parecem desligados, indiferentes e sem vontade de se envolver em tarefas escolares ou pessoais. Comentários como “não me apetece”, “é tudo uma seca” ou “para quê esforçar-me?” tornam-se frequentes. Por detrás destas expressões pode não estar desinteresse, mas sim um conjunto de fatores que afetam diretamente a motivação, a energia e o sentido de propósito dos adolescentes.
A desmotivação não aparece do nada. É frequentemente uma reação natural a um estilo de vida acelerado, a estímulos constantes e à sensação de que se exige muito, mas se compreende pouco.
Uma das maiores influências no estado emocional e na motivação dos adolescentes é o tempo passado online. Estudos internacionais indicam que os jovens entre os 13 e os 18 anos passam, em média, entre seis a nove horas por dia em frente a ecrãs, entre redes sociais, vídeos, jogos e outros formatos digitais. Esta exposição constante a estímulos rápidos e recompensas imediatas afeta o funcionamento de áreas do cérebro responsáveis pelo foco, pela tomada de decisão e pela regulação emocional. Quando o cérebro se habitua a respostas instantâneas, torna-se mais difícil sustentar o esforço em tarefas que exigem concentração prolongada, como estudar ou preparar uma apresentação.
O modelo educativo também desempenha um papel importante neste cenário. Muitos programas escolares continuam sobrecarregados, com excesso de conteúdos e poucas oportunidades para que os alunos compreendam o real significado do que estão a aprender. A pressão para cumprir metas e obter bons resultados deixa pouco espaço para consolidar aprendizagens, fazer pausas ou refletir. Esta falta de tempo e profundidade gera frustração e, em muitos casos, desinteresse e afastamento. Quando os adolescentes não percebem o propósito do que fazem, a motivação esmorece.
Ao mesmo tempo, é essencial observar o ambiente familiar. A qualidade do tempo passado com os pais influencia profundamente o comportamento dos filhos. Quando há ausência de tempo partilhado, escuta verdadeira e ligação emocional, o adolescente tende a desligar-se, não só da escola, mas também de si mesmo. E mais do que o que os pais dizem, é o que fazem que serve de modelo. Se os adolescentes observam adultos constantemente ligados aos telemóveis, sempre ocupados ou emocionalmente indisponíveis, aprendem a viver com o mesmo padrão.
Outro fator muitas vezes esquecido é a influência do corpo no funcionamento emocional. A falta de atividade física, o sedentarismo prolongado e as noites mal dormidas têm um impacto direto na energia mental e na capacidade de lidar com desafios. Estudos indicam que os adolescentes precisam de, pelo menos, oito horas de sono por noite para garantir uma boa regulação emocional. Quando este ciclo é interrompido de forma contínua, surgem alterações no humor, maior irritabilidade e menor capacidade de autorregulação.
A boa notícia é que, apesar de muitos destes fatores estarem fora do controlo dos pais, existem estratégias simples e eficazes que podem ser aplicadas em casa. Criar rotinas estruturadas com tempo de descanso, incentivar pausas dos ecrãs, fazer refeições em conjunto e promover o movimento físico são pequenos gestos com grande impacto. Para além disso, é essencial escutar com curiosidade, sem julgar de imediato. Perguntar “o que é que está a ser difícil para ti agora?” pode abrir muito mais espaço do que dizer “tens de te esforçar mais”.
O adolescente precisa de sentir que é ouvido, valorizado e desafiado com segurança. Não se trata de baixar a exigência, mas de a adaptar com sentido. A motivação não cresce num ambiente de cobrança constante, nem floresce onde tudo é permitido. Ela desenvolve-se quando o jovem sente que tem espaço para errar, apoio para crescer e um adulto ao lado que acredita verdadeiramente na sua capacidade.
A desmotivação, na maioria dos casos, é um sinal. Não de preguiça, mas de saturação. Não de falta de carácter, mas de ausência de direção interior. Cabe aos adultos interpretar este sinal com presença, clareza e intenção.