Para os adultos, ser adolescente parece fácil. “Só tens de estudar, ajudar em casa e divertir-te com os amigos.” Como se fosse tudo tão linear.
Mas viver com um cérebro que ainda está a aprender a planear, a decidir e a lidar com expectativas que vêm de todos os lados não é assim tão simples.
De manhã, o despertador toca. Sabes que tens de te levantar, mas o corpo não obedece. Cinco minutos. Dez. Quinze. Agora é tarde.
Vestes a primeira coisa que aparece, sem tempo para pensar se faz sentido. Pequeno-almoço? Talvez uma bolacha a caminho da porta. A mochila? Que seja o que Deus quiser.
Na escola, cada escolha parece um teste.
Se estudaste, mas erraste uma resposta, devias ter estudado mais. Se acertaste tudo, “era fácil.” Se te riste da piada errada, ficas marcado. Se não te riste, parece que não pertences.
— Vais sair hoje?
— Não sei… tenho teste amanhã.
— Desde quando te preocupas com isso?
E agora? Se fores, sentes-te culpado. Se não fores, ficas com medo de estar a perder algo importante.
Em casa, os teus pais perguntam:
— Então, como foi a escola?
— Normal.
— Só isso?
Sim, só isso. Mas “normal” nunca parece ser suficiente.
Depois do jantar, decides finalmente pegar nos livros. Mas o telemóvel vibra. Alguém enviou uma mensagem. Se responderes agora, ficas agarrado ao ecrã e adias o estudo. Se não responderes, ficas a pensar no que podes estar a perder. Optas por ignorar, mas a concentração desaparece. Agora, olhas para os apontamentos, mas as letras misturam-se. O cérebro está cansado, a motivação já era. E a culpa instala-se.
Mas, entre todos estes momentos de dúvida e pressão, houve coisas boas. Alguém reparou que mudaste o cabelo. Um professor elogiou um trabalho teu. Riste-te até as lágrimas caírem por causa de um vídeo sem sentido. Trocaram-te uma mensagem inesperada que te fez sorrir. Pequenos momentos que valeram o dia e que, no meio do caos, mereciam mais atenção.
Respiras fundo. Sobreviveste a mais um dia. Amanhã há mais, e pode até ser melhor.
Adormeces. E isso já é uma vitória.
